A evidência invisível
determinantes sociais e políticas estruturais como critério de justiça sanitária
DOI:
https://doi.org/10.62530/rbdc25p350Palavras-chave:
Direito à saúde, Determinantes sociais da saúde, Epidemiologia, Equidade em saúde, Justiça sanitáriaResumo
Contextualização: O direito à saúde no Brasil, previsto no art. 196 da Constituição Federal, pressupõe a articulação entre conhecimento científico e compromisso distributivo. A epidemiologia e os determinantes sociais da saúde (DSS) evidenciam que o adoecimento resulta de desigualdades estruturais e não apenas de riscos biológicos individuais. Contudo, a formulação e a avaliação das políticas públicas ainda se apoiam em racionalidades fragmentadas, nas quais a prova empírica e a norma jurídica caminham separadamente. Problema: A dissociação entre a racionalidade empírica da epidemiologia e a racionalidade dedutiva do Direito tem limitado a efetividade das políticas de saúde e a concretização do princípio da equidade. Falta um método capaz de converter evidências sociais em obrigações jurídicas mensuráveis, o que torna os DSS invisíveis no processo decisório. Objetivos: Analisar de que forma a integração entre evidência epidemiológica e normatividade jurídica pode servir de critério para a justiça sanitária e para a avaliação da efetividade do direito à saúde, com base na Constituição Federal, na Lei nº 8.080/1990 e em documentos da OMS e da CNDSS. Métodos: Adotou-se abordagem qualitativa e descritiva, com análise bibliográfica e documental de normas, relatórios técnicos e literatura científica nacional e internacional produzida entre 1990 e 2025, incluindo obras de Krieger, Marmot e Nunes. Resultados: A pesquisa identificou um hiato persistente entre evidência e juridicidade. A epidemiologia é reconhecida legalmente como princípio do SUS, mas raramente orienta decisões administrativas ou judiciais. Os DSS permanecem marginalizados, apesar de constituírem indicadores de descumprimento de deveres constitucionais. Conclusões: A efetividade do direito à saúde depende da convergência entre razão empírica e razão normativa. Integrar a epidemiologia à estrutura jurídica das políticas públicas é condição para transformar dados de desigualdade em parâmetros de equidade, permitindo que a evidência científica recupere seu papel ético e político como fundamento da justiça sanitária.
Referências
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília: Senado Federal, 1988.
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Diário Oficial da União, Brasília, 20 set. 1990.
BRASIL. Ministério da Saúde. Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM); Sistema de Informações sobre Nascidos Vivos (SINASC). Mortalidade infantil e nascidos vivos por região – 2023. Brasília: Ministério da Saúde, 2023. Disponível em: http://tabnet.datasus.gov.br/cgi/tabcgi.exe?sim/cnv/inf10uf.def. Acesso em: 3 out. 2025.
COMISSÃO NACIONAL SOBRE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE (CNDSS). As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008.
CONASS – Conselho Nacional de Secretários de Saúde. Financiamento do SUS: desafios e perspectivas. Brasília: CONASS, 2024.
FIOCRUZ – Fundação Oswaldo Cruz. Determinantes sociais da saúde (verbete). Rio de Janeiro: Fiocruz, 2025.
GREENHALGH, T. et al. Evidence based medicine: a movement in crisis? BMJ, v. 348, g3725, 2014. DOI: 10.1136/bmj.g3725.
INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER (IARC). Reducing Social Inequalities in Cancer: Evidence and Priorities for Research. Lyon: IARC, 2019. Cap. 8: Theoretical frameworks and cancer inequities (N. Krieger).
KRIEGER, N. Epidemiology and the People’s Health: Theory and Context. New York: Oxford University Press, 2011.
KRIEGER, N. Ecosocial Theory, Embodied Truths, and the People’s Health. New York: Oxford University Press, 2019.
MARMOT, M. Fair Society, Healthy Lives: The Marmot Review. London: University College London, 2010.
MARMOT, M. The Health Gap: The Challenge of an Unequal World. London: Bloomsbury, 2015.
MOHAN, A.; CHATTOPADHYAY, S. Cost-effectiveness of patient navigation programs for cancer care in the United States: a systematic review. JAMA Oncology, v. 6, n. 2, p. 241–249, 2020. DOI: 10.1001/jamaoncol.2019.5292.
NUNES, J. A. Saúde, direito à saúde e justiça sanitária. Ciência & Saúde Coletiva, Rio de Janeiro, v. 14, n. 6, p. 1859–1869, 2009. DOI: 10.1590/S1413-81232009000600002.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Closing the Gap in a Generation: Health Equity through Action on the Social Determinants of Health. Final Report of the Commission on Social Determinants of Health. Geneva: WHO, 2008.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Declaration of Alma-Ata: International Conference on Primary Health Care, Alma-Ata, USSR, 6–12 September 1978. Geneva: World Health Organization, 1978. Disponível em: https://www.who.int/publications/almaata_declaration_en.pdf. Acesso em: 4 out. 2025.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). World Health Statistics 2009. Geneva: WHO, 2009.
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). Political Declaration on Social Determinants of Health: Rio de Janeiro, 2011. Geneva: WHO, 2011.
Downloads
Publicado
Declaração de Disponibilidade de Dados
Não houve disponibilização dos dados de pesquisa dos autores.