Epidemiologia e Medicina Baseada em Evidências
tensões e correções para a efetivação do direito à saúde oncológica no SUS.
DOI:
https://doi.org/10.62530/rbdc25p122Palavras-chave:
Direito à saúde, Sistema Único de Saúde, Epidemiologia, Medicina Baseada em evidências, OncologiaResumo
RESUMO: Contextualização: a efetivação do direito à saúde no Brasil exige conciliar rigor científico e justiça social. Problema: este artigo analisa criticamente a relação entre epidemiologia, Medicina Baseada em Evidências (MBE) e Sistema Único de Saúde (SUS), com ênfase na oncologia. Objetivos: demonstrar que a MBE, embora necessária, é insuficiente quando aplicada isoladamente, e que apenas articulada à epidemiologia – princípio estruturante previsto no art. 7º da Lei nº 8.080/1990 – pode sustentar decisões equânimes e juridicamente legítimas. Métodos: o estudo adota abordagem qualitativa e descritiva, com análise bibliográfica e documental de normas jurídicas, relatórios técnicos e literatura científica nacional e internacional entre 1990 e 2025. Resultados: três pontos críticos são críticos: (i) a baixa validade externa dos ensaios clínicos oncológicos quando transpostos ao contexto do SUS; (ii) a predominância do impacto orçamentário nas decisões da CONITEC frente a aspectos éticos e sociais; e (iii) a contradição entre inovação biomédica de alto custo e prioridades epidemiológicas de populações vulneráveis. Evidências de custo-efetividade de intervenções em determinantes sociais da saúde, como programas de rastreamento e apoio comunitário, demonstram ganhos robustos a custos reduzidos, contrastando com terapias oncológicas de benefício marginal. Conclusões: a integração entre MBE e epidemiologia é condição necessária para materializar a universalidade e a equidade constitucionais, evitando que a evidência científica se converta em tecnicismo excludente e assegurando sua função de critério de justiça distributiva.
Referências
AVELLAR, L. M. C. et al. Clinical cancer research in South America: current status, challenges, and opportunities. ecancermedicalscience, v. 17, p. 1-15, 2023. DOI: https://doi.org/10.3332/ecancer.2023.1572. DOI: https://doi.org/10.3332/ecancer.2023.1572
BRASIL. Constituição (1988). Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/constituicao/constituicao.htm. Acesso em: 24 set. 2025.
BRASIL. Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990. Dispõe sobre as condições para a promoção, proteção e recuperação da saúde, a organização e o funcionamento dos serviços correspondentes. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/L8080.htm. Acesso em: 24 set. 2025.
BRASIL. Lei nº 12.401, de 28 de abril de 2011. Altera a Lei nº 8.080, de 19 de setembro de 1990, para dispor sobre a assistência terapêutica e a incorporação de tecnologia em saúde. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/lei/L12401.htm. Acesso em: 24 set. 2025.
BRASIL. Decreto nº 7.646, de 21 de dezembro de 2011. Dispõe sobre a Comissão Nacional de Incorporação de Tecnologias no Sistema Único de Saúde – CONITEC. Disponível em: https://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2011-2014/2011/decreto/D7646.htm. Acesso em: 24 set. 2025.
BRIZ, Teodoro. Epidemiologia: os olhos e a linguagem da saúde pública. Revista Brasileira de Epidemiologia, v. 12, n. 2, p. 136-144, 2009. DOI: https://doi.org/10.1590/S1415-790X2009000200001. DOI: https://doi.org/10.1590/S1415-790X2009000200001
CAMPOLINA, A. G. et al. Avaliação de tecnologias em saúde no Brasil: análise das recomendações da CONITEC (2012–2018). Cadernos de Saúde Pública, v. 38, n. 4, p. 1-14, 2022. DOI: https://doi.org/10.1590/0102-311X00012321.
CARMO, Rafael Luis Moura Lima do. Análise de custo-efetividade do sorafenibe para o tratamento do carcinoma hepatocelular avançado da perspectiva do Sistema Único de Saúde brasileiro (SUS). 2019. Dissertação (Mestrado em Ciências, área de Oncologia) – Universidade Estadual de Campinas, Campinas, 2019. Disponível em: https://hdl.handle.net/20.500.12733/1638653.
CHI, Heem Wong; KIEN, Weisiah; LO, Andrew W. Estimation of clinical trial success rates and related parameters. Biostatistics, v. 20, n. 2, p. 273-286, 2019. DOI: https://doi.org/10.1093/biostatistics/kxx069. DOI: https://doi.org/10.1093/biostatistics/kxx069
COMISSÃO NACIONAL SOBRE DETERMINANTES SOCIAIS DA SAÚDE (CNDSS). As causas sociais das iniquidades em saúde no Brasil. Rio de Janeiro: Fiocruz, 2008. Disponível em: https://bvsms.saude.gov.br/bvs/publicacoes/causas_sociais_iniquidades.pdf.
CONASS. Financiamento do SUS: desafios e perspectivas. Brasília: Conselho Nacional de Secretários de Saúde, 2024. Disponível em: https://www.conass.org.br/biblioteca/financiamento-do-sus-desafios-e-perspectivas/.
DELDUQUE, Maria Célia. Direito à saúde: regulação sanitária e política pública. Brasília: Editora Fiocruz, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.7476/9786557080281.
GREENHALGH, Trisha et al. Evidence based medicine: a movement in crisis? BMJ, v. 348, g3725, 2014. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.g3725. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.g3725
HERBERT, R. D. et al. Is evidence-based medicine being hijacked? Medical Journal of Australia, v. 174, n. 5, p. 260-261, 2001. DOI: https://doi.org/10.5694/j.1326-5377.2001.tb143212.x. DOI: https://doi.org/10.5694/j.1326-5377.2001.tb143212.x
INTERNATIONAL AGENCY FOR RESEARCH ON CANCER (IARC). World cancer report: cancer research for cancer prevention. Lyon: IARC, 2019. Disponível em: https://publications.iarc.fr/586.
KAHNEMAN, Daniel. Rápido e devagar: duas formas de pensar. Rio de Janeiro: Objetiva, 2012.
KRIEGER, Nancy. Epidemiology and the people’s health: theory and context. New York: Oxford University Press, 2011. DOI: https://doi.org/10.1093/acprof:oso/9780195383874.001.0001
KRIEGER, Nancy. Ecosocial theory, embodied truths, and the people’s health. New York: Oxford University Press, 2019.
LLOVET, J. M. et al. Sorafenib in advanced hepatocellular carcinoma. New England Journal of Medicine, v. 359, n. 4, p. 378–390, 2008. DOI: https://doi.org/10.1056/NEJMoa0708857. DOI: https://doi.org/10.1056/NEJMoa0708857
MARMOT, Michael. The health gap: the challenge of an unequal world. London: Bloomsbury, 2015. DOI: https://doi.org/10.1016/S0140-6736(15)00150-6
MARMOT, Michael. Social inequalities, global public health, and cancer. In: VACCARELLA, Salvatore; LORTET-TIEULENT, Joannie; SARACCI, Rodolfo; CONWAY, David I.; STRAIF, Kurt; WILD, Christopher P. (ed.). Reducing social inequalities in cancer: evidence and priorities for research. Lyon: International Agency for Research on Cancer, 2019. cap. 2. Disponível em: https://www.ncbi.nlm.nih.gov/books/NBK566212/. Acesso em: 24 set. 2025.
MOHAN, Ashwini; CHATTOPADHYAY, Sanjib. Cost-effectiveness of patient navigation programs for cancer care in the United States: a systematic review. JAMA Oncology, v. 6, n. 2, p. 241-249, 2020. DOI: https://doi.org/10.1001/jamaoncol.2019.5292. DOI: https://doi.org/10.1001/jamaoncol.2020.1460
OECD. Health at a glance 2023: OECD indicators. Paris: OECD Publishing, 2023. DOI: https://doi.org/10.1787/4dd50c09-en. DOI: https://doi.org/10.1787/4dd50c09-en
RIBEIRO, J. P.; PEREIRA, R. A. Oncologia e equidade no SUS: desafios da integralidade. Revista de Saúde Pública, v. 58, n. 1, p. 1-9, 2024. DOI: https://doi.org/10.11606/s1518-8787.2024058000123.
SACKETT, David L. et al. Evidence-based medicine: what it is and what it isn’t. BMJ, v. 312, n. 7023, p. 71-72, 1996. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.312.7023.71. DOI: https://doi.org/10.1136/bmj.312.7023.71
WANG, Daniel. Judicialização da saúde e regulação: desafios para o direito sanitário. Revista de Direito Sanitário, v. 9, n. 2, p. 65-84, 2008. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9044.v9i2p65-84. DOI: https://doi.org/10.11606/issn.2316-9044.v9i2p65-72
WORLD HEALTH ORGANIZATION (WHO). World health statistics 2023: monitoring health for the SDGs, sustainable development goals. Geneva: WHO, 2023. Disponível em: https://www.who.int/publications/i/item/9789240074326.
Downloads
Publicado
Declaração de Disponibilidade de Dados
Não houve disponibilidade de dados