Regulação de tratamentos modificadores da doença de Alzheimer

um estudo comparado entre Estados Unidos e Brasil

Autores

DOI:

https://doi.org/10.62530/rbdc25p401

Palavras-chave:

Doença de Alzheimer, Tratamentos modificadores de doença, Regulação sanitária, FDA, Anvisa, Direito Comparado, Avaliação de tecnologias em saúde

Resumo

Contexto: A doença de Alzheimer constitui um dos maiores desafios de saúde pública do século XXI, em razão do envelhecimento populacional e do aumento da prevalência de demências em escala global. A chegada de terapias modificadoras, em especial os anticorpos anti-amiloide, reacendeu debates sobre regulação, custo-efetividade e acesso. Problema: Embora os resultados clínicos recentes indiquem avanços, ainda existem incertezas quanto à magnitude dos benefícios, aos riscos adversos e, sobretudo, às diferenças nos modelos regulatórios adotados pelos Estados Unidos e pelo Brasil. Objetivos: Objetiva-se analisar comparativamente os papéis da FDA e do CMS, de um lado, e da Anvisa, Conitec e ANS, de outro, destacando os tempos e critérios de aprovação, as evidências exigidas, as políticas de cobertura financeira e os desafios de acesso. Métodos: A pesquisa utiliza abordagem dedutiva, fundamentada em levantamento bibliográfico, análise de legislação, doutrina e jurisprudência nacionais e internacionais. Resultados: A análise demonstrou que os Estados Unidos adotam vias de aprovação acelerada pela FDA, seguidas de confirmação clínica, com integração entre regulação e cobertura pública pelo CMS, ainda que condicionada à produção contínua de evidências. Já no Brasil, a Anvisa aprovou recentemente o donanemabe, mas o processo de incorporação pelo SUS e pela ANS permanece em andamento, marcado pela cautela quanto ao custo-efetividade, pela judicialização crescente e por limitações estruturais na rede diagnóstica. Conclusões: Conclui-se que o modelo norte-americano assegura maior celeridade e integração entre aprovação e financiamento, enquanto o Brasil apresenta avanços regulatórios, mas ainda enfrenta entraves para garantir acesso amplo e equitativo.

Biografia do Autor

  • Célio Ramos Farias, Universidade Santa Cecília

    Advogado. Bacharel em Ciências Jurídicas (UNISANTA). Pós-graduado em Direito Digital (UNISANTA). Pós-graduação em Direito Imobiliário (UNISANTA). Pós-graduado em Direito Notarial e Registral (Anhanguera). Pós-graduado em Educação Especial e Inclusiva (Anhanguera). CV: http://lattes.cnpq.br/9170852990126359. E-mail: cf067368@alunos.unisanta.br.

  • Verônica Scriptore Freire e Almeida, Universidade Santa Cecília

    Doutora  em Direito Econômico  pela  Faculdade de  Direito  da  Universidade de Coimbra,  em Portugal, com reconhecimento e revalidação pela Universidade de São Paulo-USP (2009-2016). Mestre em Direito Econômico pela Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra, em Portugal, com reconhecimento e revalidação pela Universidade de São Paulo-USP (2005-2008). Residiu em Washington DC, EUA, em período de Pesquisa Acadêmica Doutoral (2015-2016) e Pós-Doutoral (2016-2017) na Georgetown University (Law Center). Professora Permanente do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu, Mestrado em Direito da Saúde, da Universidade Santa Cecília. Editor-in-Chief da Global Health Law Journal-Unisanta. Coordenadora do Curso de Relações  Internacionais  da Unisanta. Advogada, atuando, no Brasil e no exterior, nas áreas de Direito  Digital, Direito Econômico, Direito Internacional, Direito Empresarial, Health Law, Trust Law e Relações Internacionais.

  • Marcelo Lamy, Universidade Santa Cecília

    Advogado. Bacharel em Ciências Jurídicas (UFPR). Mestre em Direito Administrativo (USP). Doutor em Direito Constitucional (PUC-SP). Pós-doutor em Políticas Públicas em Saúde (Fiocruz Brasília). Pós-doutor em Direitos Fundamentais e Acesso a Justiça (UFBA). Professor Permanente e Vice-Coordenador do Programa de Pós-Graduação Stricto Sensu, Mestrado em Direito (UNISANTA). Professor da Master of Science in Legal Studies, Emphasis in International Law (MUST University). Professor no curso Direito e no curso Relações Internacionais (UNISANTA). Líder do Grupo de Pesquisa CNPq\UNISANTA "Direitos Humanos, Desenvolvimento Sustentável e Tutela Jurídica da Saúde". Diretor Geral do Observatório dos Direitos do Migrante (UNISANTA). Coordenador do Laboratório de Políticas Públicas (UNISANTA). Professor da Faculdade de Direito (ESAMC-Santos). ORCID ID: http://orcid.org/0000-0001-8519-2280. CV: http://lattes.cnpq.br/9347562683746206. E-mail: marcelolamy@unisanta.br.

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Publicado

2025-11-18

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Como Citar

FARIAS, Célio Ramos; ALMEIDA, Verônica Scriptore Freire e; LAMY, Marcelo. Regulação de tratamentos modificadores da doença de Alzheimer: um estudo comparado entre Estados Unidos e Brasil. Revista Brasileira de Direito Constitucional, [S. l.], v. 25, p. 401–417, 2025. DOI: 10.62530/rbdc25p401. Disponível em: https://rbdc.com.br/revista/article/view/397. Acesso em: 21 nov. 2025.